sábado, 21 de fevereiro de 2009

As dúvidas sobre a morte de Naya

Se a polícia e o Ministério Público agirem rapidamente, será possível apurar as causas reais da morte de Sérgio Naya. Ou que, de fato, morreu de um ataque cardíaco; ou, que possa ter sido assassinado. E será possível, antes que desapareçam, levantar todos os bens de Naya em nomes de terceiros, permitindo ressarcir todas as vítimas do Paláce 1 e 2.

Em setembro, um amigo e sócio de Sérgio Naya ligou para seu irmão Paulo Naya. Marcaram um encontro no Kubistcheck Plaza, em Brasília. Lá, Paulo teria sido alertado que seu irmão corria risco de vida.

Nenhum dado mais concreto, mas deduções a partir da análise dos negócios de Naya. Ele montou uma rede intrincadíssima de laranjas e procuradores, e tinha se desarmado completamente em relação às precauções legais, caso morresse. Sua morte poderia beneficiar muitas pessoas.

Para entender, esse imbróglio, é necessário reconstituir parte da vida profissional de Naya, depois da tragédia dos dois edifícios.

O círculo de laranjas

Depois do episódio, Naya ficou com os bens todos bloqueados. Teve início, então, um trabalho de colocação dos bens em nomes de laranjas. Montou-se uma rede intrincada. Parte dos laranjas são funcionários humildes dos hotéis de Naya. Eles ficavam com os bens, Naya com a procuração.

Se a Justiça quiser, se os advogados das vítimas do Pálace forem rápidos, tratem de investigar pelo menos dois funcionários, em nome dos quais Naya colocou parte dos seus bens. São pessoas humildes, pobres até. Naya colocava-os como laranjas, mas ficava com a procuração – que perde efeito com sua morte. São eles o gerente do San Peter Luiz Gonzaga Ferreira e Narlei Ferreira, outro empregado dele. Há inúmeras propriedades em Brasília em nome desses laranjas. O importante é levantar quem são os coordenadores dessa rede de laranjas.

Há outro laranja em Salvador, em nome do qual estão dois empreendimentos de Naya em Ilhéus: um loteamento de 30 mil m2 e um projeto hoteleiro, o Centro de Convivência de Idosos. O empreendimento foi vendido para um terceiro. Naya recebeu R$ 100 milhões em pagamento, em precatórios de Minas Gerais. Mas a escritura não chegou a ser passada. Provavelmente o comprador dançou. O que significa que os bens continuarão em nome do laranja. Há também uma fazenda de 500 alqueires em Planaltina de Goiás, também em nome de laranjas.

A Justiça nunca investigou as circunstâncias das vendas de bens de Naya, os leilões pelos quais os bens – destinados a ressarcir as vítimas – saíam por preços irrisórios. Seu irmão Paulo Naya, por exemplo, ficou com 40% de um de seus bens valiosos, o Hotel San Peter, em Brasília. Recentemente aumentou sua participação para 60%.

Esta semana foi vendido um terreno de Naya em Osasco. O valor estimado é de R$ 40 milhões. Mas apenas R$ 8 milhões foram depositados na conta das vítimas do Pálace.

Há uma imobiliária em Brasília, cujo procurador é o advogado Wilson Campos de Miranda Filho. Era através dela que Naya fazia todos seus negócios, recebia pagamentos e pagava compromissos. É possível que a imobiliária tenha em caixa pelo menos 50 milhões de dólares.

A fonte – que meu passou nome, telefone e mostrou documentos que atestavam sua proximidade com Naya – sustenta que existem no Bradesco R$ 70 milhões em debêntures da Vale, de propriedade de Naya, em nome do advogado. Estima-se mais R$ 200 milhões em nomes de laranjas diversos.

O advogado de Naya

A aproximação de Naya com Wilson se deu nos últimos anos. Wilson e seu irmão Leonardo eram lutadores de kikboxing. São advogados jovens – Wilson com pouco mais de 30 anos. Em dezembro passado, Wilson foi o campeão na categoria Light Contact masculino adulto (até 79Kg) do 5o Campeonato Panamericano de Kikboxing

Depois do episódio do Pálace, Naya se recolheu. Ficou morando sozinho em um apartamento de mil metros quadrados. Deixou de ser visitado por políticos, amigos, familiares e protegidos. Suas únicas diversões eram visitar as Feiras Paraguaias (de quinquilharias) em Brasília e Ilhéus.

Gozava de perfeita saúde, ao menos na aparência. Nunca se queixou de dores no peito ou algo que sugerisse problemas cardíacos. Nos últimos tempos, amigos passaram a notar oscilações bruscas no seu humor, alterando momentos tranquilos com explosões – que nunca foram comuns em sua vida.

Com o tempo, passou a entregar todos os negócios a Wilson, que criou uma malha intrincadíssima. Para desmanchar cada nó era uma dureza. Segundo essa fonte, Naya queria resolver definitivamente as pendências do Palace, mas Wilson colocava empecilhos a cada passo.

Esses dados mostram que muitos poderiam ser beneficiados com a morte súbita de Naya. Mas não prova que ele foi assassinado.

Início das investigações

Para poder avançar em conclusões serão necessárias duas providëncias iniciais. Primeiro, uma nova autópsia. Depois, o levantamento dos bens em nomes de laranjas ou procuradores, para saber se houve algum saque relevante no dia da morte de Naya.

Finalmente, uma ação rápida para impedir que os bens em nomes de laranjas sumam no cipoal da economia informal, antes que as vítimas do Palace possam ser resssarcidas.

Texto extraído do Blog do Luís Nassif.

Interessante

Apesar de algumas manifestações no arcaico estilo "subversivo-fanfarrão", o centro de mídia independente figura como uma boa opção pra quem deseja informações "extra-mainstream" sobre política, sociedade, economia e afins.

Vale a pena conferir!