quinta-feira, 7 de maio de 2009

Joinha, joinha!

Hoje, um grafite inofensivo; amanhã, propaganda da coca-cola!

O vírus da estação

Por Sidney Andrade


E se restava ainda alguma dúvida de que o mundo está doente, eis os porquinhos de agora pra nos provar que nem só de pão viverá o homem, mas de todo bacon que ele conseguir descontaminar. Eu tento, mas não consigo não ser sarcástico, suspeito que numa época de modismos exacerbados, até as epidemias têm tendência. Se antes a preocupação vinha do ambiente, assim meio que como uma caixinha de surpresa saltava da água suja uma cólera, depois uma picadinha de mosquito e lá vinha a dengue, enfim, moléstias de “por onde andei”, a moda do século vinte e um é vírus mutante em pele de animal.


E quem não se lembra que um tempinho atrás eram as aves as protagonistas? Como toda boa modinha, autodestrutiva, era o cúmulo do paradoxo: canja, o melhor remédio pra toda gripe, nem pensar! Esse negócio de fama é mesmo muito fugaz, mal deu tempo e já as penas estão ultrapassadas. O porco é o novo frango. Rosa é a cor da estação.


Mas ainda há um mínimo de consciência ambiental! Porque o contágio da gripe suína não se dá através dos porcos. A transmissão é feita de pessoa pra pessoa, e seguindo a linha politicamente correta que é também tendência do século, resolveu-se rebatizar a doença, para que os porquinhos não sejam sacrificados inocentemente, feito as bruxas da inquisição. O nome agora é Gripe A H1N1. O vírus evoluiu dos bichos e é passado adiante feito a boa e velha gripe do tempo da vovó. Mesmo assim, ainda não confio muito: e como foi que a primeira pessoa se contaminou? Talvez um fazendeiro muito apegado que costumasse dar beijinhos de bom-dia nos seus bichinhos.


Desconfianças à parte, um eufemismo é sempre mais atraente. Termos científicos chegaram com tudo nesse começo de século. E essa coisa de misturar números com letras dá um tom mais solene ao problema, a gravidade parece que aumenta: feito mãe zangada que chama o filho pelo nome completo pra ele perceber a encrenca em que se meteu.


É fato: a paranóia reina. Tanto que, agora, qualquer espirrozinho estremece o mundo. Mesmo os jornais repetindo incansavelmente – e eu já exausto de escutar – que a doença ainda não deu sinais no Brasil (ai, ai, até nesse ponto as novas tendências chegam por último aqui), não pude evitar de cogitar a possibilidade: mamãe ficou resfriada essa semana.


E lá vou eu investigar, temeroso, todas as implicações da doença. O que só serviu pra aumentar minha aflição. Os sintomas são quase os mesmos da démodé gripe do frango, que, por sua vez, não diferiam muito – ao meu olhar de leigo, claro – dos da gripe pré-histórica banal. Uma febre, tosse, nariz escorrendo, dores de cabeça e no corpo: pronto, mamãe, com complexo de Elvira Pagã (primeira brasileira a usar biquíni, nas praias de Copacabana), ousada, vai ser pioneira no Brasil. No fim, foi apenas um dia de resfriado.


E, mesmo assim, ainda não sosseguei. Hoje mesmo tive uma dor de cabeça mais aguda e uma indisposição. Quem riria de mim se eu dissesse que já pensei na desgraçada da A H1N1? O alarde, ao invés de acalmar, parece provocar um tal placebo às avessas.


Bem, teve o mal da vaca louca, depois as aves, agora os porcos. Será que peixe também fica gripado?


Texto diligentemente garimpado por nossa fiel correspondente-escudeiraSusanna Fernandes Lima em mais uma de suas investigações intenéticas.