Já havia entrado numa fila equivocadamente e de lá me tirou uma funcionária quando percebeu que eu queria simplesmente postar três livros. Tirou-me da fila, mas com aquela pressa e superioridade francesa murmurou umas coisas que não dava para entender, porque não era questão de língua, é que era uma informação nova que eu não podia absorver assim sem mais nem menos. Na verdade, eu teria que fazer umas operações simples, simples para quem sabe, impossíveis para quem não sabe. Quando a funcionária me disse solipsisticamente o que fazer, eu brasileiramente lhe ponderei: -"Mas vou ter que antes fazer doutoramento na Sorbone, sou apenas um turista e acabei de chegar, veja, "sou apenas um rapaz latino-americano", como cantava o Belchior.
A funcionária me olhou com evidente superioridade. Eu era aquilo que Montesquieu, num livro do antigo ginásio chamava de : " um persa em Paris", um estranho no ninho. Acho que foi aí que Helena Faissol ouviu o meu clamor de subdesenvolvido e estendeu-me o sorriso, a mão e aquela frase salvadora.
Na verdade (dei-me conta), teria que executar a seguinte operação: ir a um balcão, no qual não havia atendente, apenas uma fila de pessoas e mesa computadorizada com uma balança em cima. Teria que ter intimidade suficiente com aquele móvel para botar os livros um por um na balança, apertar uns botões que eu teria que descobrir onde estavam, fazendo, é claro, distinção sobre correspondência para a França e para o exterior; a seguir, como se soubesse tudo o que aquela máquina é capaz de fazer em substituição a um ser humano, retirar os selos de um de seus buraquinhos, colá-los no envelope e pagar. Mas pagar como? Simples, para quem sabe: eu teria que ter o número exato de moedas necessárias, (coisa de advinho e profeta) ou então meter ali o cartão de crédito e começar a ter com a máquina um diálogo pós-industrial.
Como se vê, escrever crônicas tem alguma utilidade. Elas não mudam o mundo, mas podem nos ajudar até a postar correspondência no exterior.
(*)-Estado de Minas/Correio Braziliense-12.01.09
Este vômito burguês é mais uma postagem da série a série: Susanna faz free lance no "Banalidades".
11 comenta aí, amizade!:
Vômito burguês é sacanagem!
hahahahhahahahahahahahaha
Ok.
Secreção.
Melhorou?
Burguês isso? Não chega a teus pés!!!kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Hã?
Cuma?
Hã?
Cuma? 2 a missão!
Amanda... pode começar a lista das burquesices do FW. Eu completo no que faltar!
Ultraje após ultraje!
Ô vidinha sem jeito!
É isso o que vc merece, senhor FW!
Meu marido e eu passamos pela mesma situação hoje! Achei o teu post, pois fiquei tão constrangida e humilhada, que fui pesquisar "correio em Paris". Foi um parto de gêmeos postar uma simples correspondência com um formulário de inscrição de um curso de Francês (para piorar, aqui tudo é feito por correio). Vamos ficar 10 meses, quem sabe até o final da nossa estada eu aprenda, porque depender de alguns atendentes francêses é realmente humilhante.
"Um parto de gêmeos" é uma metáfora que certamente enriqueceria a crônica de Romano de Sant'Anna!
Obrigado pela manifestação e boa estada em Paris!
Um abraço!
Esse Fabiano Barreto é meio esquisitão...
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